Os franceses fora às ruas antes mesmo da divulgação do resultado das eleições deste domingo. Depois de um primeiro turno histórico, eleitores de 506 distritos franceses voltaram às urnas para escolher seus representantes no Parlamento.
E contrariando as pesquisas, até o momento os resultados confirmam que o bloco de esquerda Nova Frente Popular se consolidou como a maior força do Parlamento.
A extrema direita, liderada pelo Reagrupamento Nacional (RN), de Marine Le Pen e Jordan Bardella — que havia obtido ótimos resultados no primeiro turno —, acabou ficando apenas em terceiro lugar, segundo as projeções, atrás também do bloco do presidente Emmanuel Macron, de centro-direita.
Após os resultados iniciais, o primeiro-ministro Gabriel Attal, do bloco macronista, anunciou que deixará o cargo na segunda-feira.
🇫🇷 Manifestantes de esquerda comemoram os resultados das eleições legislativas e erguem bandeira da França cheia de retalhos.
No meio da bandeira, está escrito: “a França é tecida pela imigração”.pic.twitter.com/XTTCe3WoCq
— Eixo Político (@eixopolitico) July 7, 2024
O Palácio do Eliseu anunciou que Macron aguarda a “estruturação” da nova Assembleia para “tomar as decisões necessárias”.
O chefe de Estado defende “cautela” diante dos resultados que ainda podem mudar e quer esperar que a Assembleia Nacional tome forma antes de nomear um novo chefe de governo.
— O indicado a premier não precisa de voto de confiança, só não pode ter uma moção de censura, ou seja, 289 deputados contra você — explicou ao Globo Thomás Zicman, cientista político da universidade parisiense Sciences Po. — Mesmo que ele não renunciasse, não conseguiria aprovar nada.
Como nenhum bloco conseguiu maioria absoluta, surgem vários cenários possíveis. Um deles seria uma improvável coalizão entre o bloco da esquerda, o partido no poder e os deputados de direita que não se associaram ao RN.
Contudo, se as divergências dentro da esquerda já são delicadas, ajustar as arestas entre Mélenchon (LFI) e Macron parece ainda mais difícil.
Apesar da mobilização pelas desistências, o bloco macronista se negou a abdicar dos seus quadros em disputas contra a LFI.
— O bloco da esquerda é diverso, tem motivos para estarem bravos uns com os outros, porque cada um quer hegemonizar à sua maneira. Matematicamente, eu não vejo muita saída para uma aliança entre o centro e a esquerda. O Macron já disse que a França Insubmissa está fora de questão, e a recíproca é verdadeira — disse o cientista político. — O melhor dos cenários seria uma grande aliança com o centro, a esquerda e a direita, mas seria um governo sem pé nem cabeça.
O impasse no horizonte ecoa o destino do ex-presidente Alexandre Millerand (1920-1924), forçado a renunciar, há cem anos, após um bloco majoritário rejeitar todos os nomes indicados por ele a primeiro-ministro.
Constitucionalmente, nada obrigaria Macron a deixar o cargo, e impeachments são extremamente raros na França. Com mandato até 2027, ele ainda pode, daqui um ano, dissolver a Assembleia Nacional novamente.
Fonte: Agência O Globo
Foto: Emmanuel Dunand/AFP
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