As eleições europeias deste domingo (09/06) foram marcadas por um forte avanço dos partidos de esquerda e ecologistas nos países nórdicos, conforme indicam os resultados oficiais e as pesquisas de boca de urna, enquanto as legendas de extrema direita testemunharam seu enfraquecimento.

Nesse cenário, destacou-se a performance de partidos como a Aliança de Esquerda, da Finlândia; do Partido Popular Socialista, da Dinamarca; e o Partido de Esquerda, da Suécia, cujas siglas descendem de movimentos comunistas.

Esses resultados colocam os países escandinavos na contramão dos principais membros da União Europeia, onde “os movimentos ultranacionalistas triunfaram”, enquanto no norte do continente esses mesmos setores foram “varridos pela esquerda”, como apontou o jornal francês Le Monde.

 

Finlândia

Na Finlândia, a ecossocialista Aliança de Esquerda obteve 17,3% dos votos, com mais de 99% dos votos apurados, representando um aumento de 10,4 pontos percentuais em relação às eleições de 2019. Portanto, o partido garantiu três dos 15 assentos do país no Parlamento Europeu.

“Estou em choque. Eu não poderia estar mais feliz”, disse a líder do partido Aliança de Esquerda, Li Andersson, à emissora finlandesa YLE.

A sigla foi fundada em 1990 pela Liga Democrática do Povo Finlandês, conhecida como uma das maiores esquerdistas da Europa capitalista. Ela foi composta por uma grande parte dos membros do antigo Partido Comunista da Finlândia e da Liga Democrática das Mulheres Finlandesas. Mais tarde, juntou-se também a Alternativa Democrática comunista.

Os objetivos declarados do Aliança de Esquerda são a justiça social e econômica, além do desenvolvimento sustentável do meio ambiente, incluindo “seu lugar ao lado dos trabalhadores, da paz e do desarmamento, da natureza e da maioria oprimida da humanidade”.

O Partido da Coalizão Nacional, de centro-direita, do primeiro-ministro Petteri Orpo, ainda foi o mais votado, com 24,7%, conquistando quatro cadeiras.

Por outro lado, o Partido Finlandês, de extrema direita, que integra o governo de coalizão de Orpo, viu seu apoio cair drasticamente, obtendo apenas 7,6% dos votos, o que representa uma queda de 6,2 pontos percentuais. A legenda ficou com apenas um assento.

“Este é um alerta para o nosso partido. Agora precisamos ativar mais as nossas políticas da União Europeia”, disse Sebastian Tynkkynen, que será o único representante do Partido Finlandês no Parlamento Europeu.

 

Dinamarca

Na Dinamarca, com todos os votos contados, o Partido Popular Socialista, ascendeu como o maior partido do país, ao conquistar 17,4% dos votos, representando um aumento de 4,2 pontos percentuais em relação ao resultado eleitoral de 2019.

O Partido Popular Socialista, cuja sigla foi fundada em 1959 como cisão do Partido Comunista da Dinamarca, tem como objetivo declarado a conversão do povo dinamarquês à luta pela introdução pacífica do socialismo no país, assim como o combate em prol da abolição das forças armadas e resistência à União Europeia.

Os social-democratas, que governam o país desde 2019, tiveram um recuo, perdendo 5,9 pontos percentuais ao obter 15,6% dos votos, conforme as apurações.

 

Suécia

Na Suécia, o Partido Verde cresceu e se tornou o terceiro maior do país, com 13,8% dos votos, um aumento de 2,3 pontos percentuais em relação a 2019. O Partido de Esquerda também demonstrou forte avanço, chegando a conquistar 11% dos votos, uma alta de 4,2 pontos percentuais.

Fundado em 1980, o Partido Verde foi desencadeado pelo movimento anti-energia nuclear, após o referendo da energia nuclear de 1980, derivado de um descontentamento com as políticas ambientais das siglas então existentes.

Entre 2014 e 2021, os verdes fizeram parte do governo liderado pelos social-democratas. No entanto, o partido decidiu pela desintegração depois que o orçamento das siglas da oposição conservadora para 2022 foi aprovado pelo Riksdag, o Parlamento sueco, enquanto o orçamento do próprio governo não foi aprovado.

Já o Partido de Esquerda, considerado hoje uma sigla ecossocialista, originou-se da cisão dos social-democratas, em 1917, e se consolidou na época como o Partido de Esquerda Social-Democrata Sueco.

A divisão ocorreu quando o então Partido Social-Democrata não apoiou a revolução bolchevique de 1917 na Rússia, somado ao fato de que muitos de seus membros se opunham à cooperação com os liberais e se mostravam favoráveis ao aumento do militarismo.

Muitos dos separatistas foram inspirados pelos bolcheviques revolucionários de Lênin, enquanto outros pelo socialismo libertário. Em 1921, a sigla passou a se chamar de Partido Comunista da Suécia e, décadas depois, em 1990, adotou o seu nome atual.

Nas eleições de domingo, esperava-se que o partido anti-imigração Democratas Suecos, que sustenta o governo de Ulf Kristersson, ultrapassasse o conservador Partido Moderado e se tornasse o segundo maior, seguindo a lógica observada nas eleições gerais do país em 2022. No entanto, segundo a AFP, o partido “perdeu terreno pela primeira vez numa eleição em sua história”, obtendo 13,2% dos votos, o que constitui uma queda de 2,1 pontos percentuais em relação a 2019.

Insatisfeito com o resultado, o líder do Democratas Suecos, Jimmie Akesson, culpou a imprensa, especialmente uma matéria divulgada por um repórter da emissora TV4, que revelou como o partido de extrema direita usa contas anônimas nas redes sociais para atacar seus supostos aliados políticos e espalhar desinformação.

 

Fonte: Opera Mundi
Foto: Twitter/Antti Yrjönen