“Fiquei surpresa com essa iniciativa, porque ainda é difícil falar sobre o abuso contra crianças. Tem muita gente que sofre calado, com vergonha, não tem pra quem pedir socorro, fica com medo e traumas. Temos que quebrar o círculo vicioso, esse tabu de não ter comunicação para conversar sobre a violência que afeta crianças e adolescentes”, afirmou a dona de casa Mônica Belo, na manhã desta segunda-feira, 6, durante a abertura da programação Maio Laranja, promovida pela Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), na Unidade Básica de Saúde (UBS) do Tapanã.
Mônica Belo levou os três filhos, Matheus Faro (de 10 anos), Walter Belo (6) e Benjamin Belo (3) para a sala de vacinação para aplicação dos imunizantes VOP (vacina oral poliomielite) e VIP (vacina inativada poliomielite) para prevenção da doença contagiosa, que pode afetar o sistema nervoso e levar a sequela permanente de paralisia.
Orientação e jogos lúdicos
Na unidade de saúde, ela teve acesso às palestras e jogos lúdicos sobre prevenção e identificação do abuso sexual de crianças e adolescentes. “Eu fui abusada por uma pessoa da família. Oriento meus filhos como mãe e amiga para termos diálogo, alertando sobre as armadilhas das ruas e do ambiente familiar e escolar, para que não cresçam como adultos fragilizados e com problemas emocionais”, relata.
A campanha Maio Laranja foi instituída por meio da Lei Nº 14.432, de 3 de agosto de 2022. A norma estabelece que durante o mês de maio de cada ano, em todo o território nacional, sejam realizadas atividades efetivas de combate à violência contra o público infanto-juvenil.
O marco da campanha se dá no dia 18 de maio, Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, instituído em memória da menina Araceli Crespo, vítima de um crime sexual em maio de 1973, aos 8 anos de idade.
Como denunciar?
As atividades realizadas pelo Núcleo de Promoção à Saúde (NUPS), da Sesma, tiveram como foco as salas de espera com pais e mães em consultas, enfermarias, sala de teste do pezinho e sala de vacinação. Na roda de conversa, foram distribuídos folders didáticos com informações valiosas, sobre como proceder aos primeiros sinais que possam acender o alerta, a disponibilidade do Disque 100 Denúncia e as devidas orientações que podem ser obtidas nas unidades básicas de saúde mais próximas.
“A denúncia deve ser feita nas primeiras 72 horas após o fato ocorrido, para que se possa realizar a profilaxia em caráter de urgência e em seguida encaminhar para as redes de segurança pública e assistência social, em atendimento de forma integrada”, alerta Maísa Gomes, referência técnica de Prevenção de Violência e Acidentes da Sesma.
Contexto – Os dados mais recentes do Anuário Brasileiro de Segurança Pública indicam que em 2023, 22.527 crianças e adolescentes foram vítimas de maus-tratos e 60% das vítimas com idade entre 0 e 9 anos.
Dessas denúncias registradas, os números podem ser bem maiores, uma vez que muitos desses crimes não chegam a ser notificados. O crescimento apontado pelo Anuário em 2023 foi de 14% para abandono de incapaz, 13,8% de maus-tratos e 16,4% de exploração sexual infantil.
Enquanto o estupro no Brasil é um crime essencialmente cometido contra crianças e meninas, já que mais de 60% das vítimas possuem menos de 14 anos e mais de 80% são do sexo feminino, as mortes violentas atingem principalmente adolescentes do sexo masculino.
Registros – De acordo com os dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e do Departamento de Vigilância à Saúde (DEVS/Sesma), na região metropolitana de Belém, de 2009 a 2024 foram registrados 9.997 casos de violência sexual. Entre os autores da agressão, em 1º lugar: amigos conhecidos. 2º lugar: pais e 3º lugar; padrastos. Os locais de ocorrência: residências, vias públicas e escolas, atingindo a faixa etária de 10 a 14 anos do sexo feminino. Os bairros de maior notificação da violência foram Tapanã, Guamá e Jurunas.
Alerta – Durante a apresentação dos jogos lúdicos realizados para estimular a percepção de sinais que indicam a proximidade de perigo, a dinâmica apontou para os locais do corpo de uma criança que não podem ser tocados, e acender o alerta para a comunicação imediata com pais, professores e pessoas de confiança.
“O mês de maio é o período de alerta à população que chama atenção para o fato de que seus filhos podem ser abusados, em muitas ocorrências, dentro do próprio lar. Temos que ficar atentos aos pequenos detalhes que passam despercebidos na velocidade do dia a dia. Após nossa visita à UBS do Tapanã, a equipe da Sesma irá dar continuidade da programação em escolas localizadas nos oito distritos administrativos de Belém”, anuncia Gabriel de Paulo, coordenador da equipe de Educação em Saúde da Sesma.
Outra forma comum de violência contra crianças é a negligência e o abandono. Esse tipo de violência está fortemente relacionado a diferentes formas de vulnerabilidade social, como pobreza e abuso de entorpecentes.
Fonte: REDEPARÁ
Foto: Augusto Pachêco
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