O Dia dos Povos Indígenas foi celebrado no dia 19 de abril, como um marco da luta e reivindicações. A data foi criada em 1943, pelo então presidente Getúlio Vargas. Décadas depois surgiu o primeiro time de futebol profissional criado por indígenas.

Em 2007, o povo Kyikatejê-Gavião, do município de Bom Jesus do Tocantins, no Pará, adquiriu os direitos do Castanheira Esporte Clube, um time amador da cidade vizinha Marabá. No ano seguinte, já com o nome de Gavião Kyikatejê, veio o título da Liga Marabaense, o que trouxe ambição para buscar a profissionalização, em 2009.

– A realidade do Gavião hoje é sempre na expectativa de continuar no cenário do futebol, buscar a primeira divisão, ter as categorias sub-15, sub-17, sub-20 e feminino. Estamos trabalhando para alcançar essa meta. Nosso objetivo é esse dentro do futebol, não só com o Gavião, mas com os indígenas. O Gavião é uma vitrine.

Zeca Gavião — Foto: Magno Barros

                                                                     Zeca Gavião

Foram quatro temporadas disputando a segunda divisão do Campeonato Paraense, até que em 2013 veio o acesso à elite estadual, conquistando o vice-campeonato. Na primeira temporada, o time estreou contra o Paysandu, com derrota por 2 a 1, na Curuzu. Foram dois anos na Série A do Parazão, sendo rebaixado em 2015.

O Gavião não parou. Seguiu competindo na divisão de acesso até voltar pra elite em 2020, mas foi um bate e volta. Todo esse tempo o clube vem sendo comandado pelo cacique Jakure Pepkrakte, o Zeca Gavião. O time aguarda o início da Segundinha do Parazão, no segundo semestre de 2024.

Zeca Gavião afirma que o clube tem um projeto de ter um time inteiro formado por indígenas e quilombolas, diferentemente do que tem sido nos últimos anos, que teve alguns atletas contratados de fora da região.

– Queremos ter pelo menos 80% de indígenas nas categorias de base, até buscar 100%. Ainda não conseguimos alcançar essa meta. Nosso projeto é para ter indígenas e quilombolas. Fui em Santarém participar de uma reunião e vi alguns indígenas e quilombolas muito bons. Vamos tentar trazer, mas é muito caro trazer esses atletas para o Gavião. Não temos apoio de ninguém, praticamente, para dar essa oportunidade para a juventude.

Gavião Kyikatejê tem elenco recheado de indígenas — Foto: Jakurei Haraxare

Gavião Kyikatejê tem elenco recheado de indígenas — Foto: Jakurei Haraxare

Por fim, o presidente do Gavião ressalta que o objetivo maior não está na competitividade, mas sim na formação dos indígenas, conciliando o futebol com os estudos. Ele, inclusive, cita um jogador histórico.

– Queremos implementar um projeto que não seja só futebol, mas a parte educacional. Construir uma história do povo indígena. Mesmo que seja um grande jogador, mas que seja um grande médico, por exemplo. Antes tínhamos o grande Doutor Socrates. Hoje não vemos mais. Vão ter essa liberdade de jogar e estudar, ser um atleta completo. Queremos estar sempre construindo. Nos tornar o próprio protagonista da nossa história no futebol.

Futebol feminino

 

O clube indígena vem tendo destaque no futebol feminino nas últimas temporadas. Em 2022, o Gavião ficou com o vice-campeonato, perdendo a final para o Remo. Em 2023, o time ficou na quinta colocação na primeira fase, mas acabou sendo eliminado nas quartas de final, para o Juventude Barcarenense.

– No feminino, estamos na expectativa para colocar as meninas de 15, 16 e 17 anos. Estamos criando e fortalecendo nosso povo para servir como base do Gavião Kyikatejê Futebol Clube. Vamos lapidar elas, ensinar as posições para elas, as características.

Time feminino do Gavião Kyikatejê — Foto: Jakukrei Haraxare / Gavião Kyikatejê

Time feminino do Gavião Kyikatejê — Foto: Jakukrei Haraxare / Gavião Kyikatejê

Categorias de base

 

O Gavião Kyikatejê também busca formar atletas em suas categorias de base. O clube tem uma equipe sub-20 ativa, que está disputando a Copa Pará – Região Sul. Em breve, o time sub-17 estará em campo para competir na Copa Pará da categoria. Ainda terá o Campeonato Paraense tanto do sub-20 quanto do sub-17.

– O nosso time sub-15 vai disputar pela primeira vez uma Copa em Salvador. Faremos uma seletiva para tentar fechar um elenco com pelo menos 22 jogadores. Vai ser disputada em julho. Isso motiva para estar participando. Vamos buscar falar com a Federação Paraense de Futebol para ter esse apoio na competição. O Gavião é filiado, então, nada mais justo a federação dar essa chancela.

Time sub-20 do Gavião Kyikatejê — Foto: Jakukrei Haraxare / Gavião Kyikatejê

Time sub-20 do Gavião Kyikatejê — Foto: Jakukrei Haraxare / Gavião Kyikatejê

Ídolo eterno

 

O primeiro grande jogador do Gavião Kyikatejê foi o atacante Aru. Foi ele que marcou o primeiro gol do time na elite estadual, com pinturas indígenas pelo corpo. Em 2015, . Aru chegou a defender outras equipes, como São Raimundo-PA e Parauapebas. Fora do Pará, passou por Palmas e Tanabi, interior de São Paulo, onde foi companheiro de equipe do ex-atacante paraguaio Salvador Cabañas.

Aru faleceu em 2018, após um grave acidente de carro, na BR-222, no município de Marabá. A camisa de número 9, vestida pelo atacante, foi aposentada pelo Gavião Kyikatejê.

Aru no jogo Gavião Kyikate contra Paysandu — Foto: Reuters

Fonte: G1
Foto: Reutters